'Colapsada, em pé' por Iole de Freitas
- Vitória Machado
- 12 de jul. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de abr.

Ao adentrar um dos prédios mais intrigantes de São Paulo, projetado por Ruy Ohtake, o visitante é recebido por tubos metálicos e placas de policarbonato que, conforme o movimento do observador, mais parecem folhas dançando com fluidez pelo ar.
A grande e surpreendente instalação de Iole de Freitas ganhou casa em meio ao hall do Instituto Tomie Ohtake — ‘Colapsada, em pé’ inaugurou no dia 8 de julho e permanecerá em exposição até 17 de setembro de 2023, com visitações gratuitas de terça a domingo.
O nome relembra o acidente sofrido pela artista enquanto gravava com seu neto Bento Dias, ambos incorporando densas e delicadas coreografias. Apesar do caso, ainda internada, a artista participou da inauguração, por meio de uma videochamada, fazendo-se presente como possível — ‘Colapsada, em pé’.
As filmagens são expostas no local e evocam a formação inicial da criadora como bailarina, algo incorporado em suas produções posteriores, como performances feitas durante os anos 1970, porém não resgatadas diretamente nas últimas seis décadas. Mas a transformação de conteúdos do passado não se mostrou apenas na dança ou então no corpo da artista como instrumento e arte, mas também na escolha de peças para constituir a instalação, pois elas já haviam sido usadas em obras antigas — algo que, com um olhar atento, é visível através dos riscos, manchas e desgastes apresentados na estrutura.
A instalação foi produto de suas experimentações com a dança. Através de fragmentos de coreografia e cenas curtas, Iole apreendia o espaço da obra para construir formas, enquanto também criava o tom da peça — os tubos cintilantes são, na verdade, base para uma dança, desta vez performada por placas e não corpos humanos.
Entretanto, o corpo continua central: a instalação chama e demanda a presença do observador para que ele percorra o espaço — pois, como o curador da exposição, Paulo Miyada, diz: “Essa peça é um abrigo aberto, uma cena à espera de atores voluntários, uma partitura especializada de dança, um dispositivo de medição do corpo e do espaço; é uma máquina para a vivência de múltiplos estados de presença, para a experimentação de modos de aparecer e perceber-se”.

Ainda que colapsados, que possamos estar de pé e presentes.
Foi na presença da artista que a obra pôde ser constituída — não sozinha, é claro, por vezes acompanhada do seu neto Beto. Na troca feita entre a artista, a criação e os consumidores dela, é que um convite é feito: o da mútua presença — que os visitantes possam também apreender o espaço e compreender a forma.
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